Grande Entrevista

Publicado em Edição 13

Andreas Berger

Entre a Suíça e Portugal

No outono de 2018, Andreas Berger foi anunciado CEO da Swiss Re Corporate Solutions, tendo assumido a nova função em março de 2019. A sua viagem rumo à liderança da vertente de seguros de empresas do Grupo Swiss Re começou no Ruanda, com paragens em Portugal, Paris, Alemanha e Londres, antes de terminar em Zurique.

Ana Cristina Borges, Administradora da MDS Portugal, foi ao seu encontro em nome da FULLCOVER, visitando a impressionante sede da organização nas margens do Lago Zurique. Conversaram sobre a sua vida em Portugal, sobre aquilo que o move como líder e a importância da resiliência global, principalmente em tempos de COVID-19. Abordou ainda o tema do protection gap, a sua perspetiva sobre a inovação e como o modelo de seguros precisa de mudar para satisfazer as necessidades dos clientes.

Andreas Berger começou a sua carreira nos seguros em 1995, como estagiário no Grupo Gerling, onde ocupou vários cargos de gestão. Juntou-se ao Boston Consulting Group antes de regressar à Gerling em 2004 como Diretor de Negócios de Empresas e Programas Internacionais e Negócios de Afinidade. Em 2006, entrou na então recem‑criada Allianz Global Corporate & Specialty SE (AGCS) como Responsável Global de Gestão de Mercados & Comunicação, criando uma função de gestão de mercado para o segmento de clientes empresariais. Foi então nomeado Diretor Executivo da AGCS, na Unidade Regional de Londres, onde assumiu responsabilidades relativamente aos territórios do R.U., Irlanda, África do Sul, Médio Oriente e Benelux. Em 2011, Andreas Berger entrou para o Conselho de Gestão da AGCS como Diretor de Regiões e Mercados (Europa Central e Leste, Mediterrâneo, África e Ásia) e assumiu a responsabilidade pelo canal de distribuição de corretores do Grupo Allianz. Juntou-se à Swiss Re em março de 2019 como CEO da Corporate Solutions e é membro da Comissão Executiva do Grupo. Tem mestrados em Direito e Gestão de Empresas. Participa na Comissão Executiva da Sociedade Internacional de Seguros e é membro honorário da comissão de seleção do Collège des Ingénieurs em Paris.

O que o atraiu para a Swiss Re Corporate Solutions?
 
Quando se trabalha no setor segurador, a Swiss Re é um ponto de referência que, muito provavelmente, influenciará de alguma forma o nosso trabalho, ou mesmo a nossa carreira, a partir do primeiro dia. A maior parte das pessoas no setor conhece os estudos Sigma do Instituto Swiss Re. Com alguma sorte, somos convidados para o Centro de Diálogo Global em Rüschlikon, que é um lugar único e inspirador. A reputação da Swiss Re deve‑se à força do seu propósito: tornar o mundo mais resiliente. E é este propósito que atrai pessoas de espírito aberto e visão global.

Estamos rodeados pelo risco, é inerente a tudo o que fazemos e nos envolve. Não sendo o risco algo negativo por si, temos de ser conscientes e encontrar formas de lidar com ele e mitiga‑lo. Numa escala global, vemos o impacto das catástrofes naturais sobre os indivíduos, instituições e sociedade em geral. Muito frequentemente, há uma lacuna entre as perdas económicas e as perdas que estão seguras em muitas partes do mundo — o protection gap — que pode levar a custos significativos para empresas e sociedades. O Grupo Swiss Re quer fechar este protection gap e dar ao mundo e aos seus habitantes maior resiliência. Foi esta força, este propósito, que me fez querer entrar na empresa.

Quando nos aproximamos da Swiss Re, vemos as pessoas por detrás desta instituição com mais de 150 anos. A Swiss Re é um ambiente muito aberto e colaborativo, com pessoas criativas, com energia e foco global. As suas ideias e soluções, combinadas com a nossa perspetiva de risco coletiva, solidez financeira e acesso direto a pools de risco globais, permitem-nos dar vida ao nosso propósito.

O que o levou a escolher o setor segurador como carreira?
Nunca pensei nos seguros como carreira embora, desde criança, estivesse consciente da indústria porque via os edifícios monumentais das seguradoras, que pareciam fortalezas impenetráveis. A sensação era de que tinham algo a esconder por detrás daquelas grandes paredes.
Acabei por entrar nos seguros de forma bastante particular. Em 1988, estava em Paris a estudar gestão. Uma noite, falando com velhos amigos da escola, partilhei o meu entusiasmo pelos estudos naquela cidade tão fantástica, mas referi que queria muito ter uma experiência mais internacional. Esta conversa passou, mas uma semana mais tarde recebi uma carta da Allianz. Embora conhecesse a empresa, não tinha nenhum contrato de seguro ou outra relação com eles. A carta dizia: “Caro Sr. Berger, os meus filhos falaram‑me do que tem feito e gostaria de o convidar a visitar o escritório da Allianz a 17 de abril de 1988, às 10 da manhã.” E pensei, por que não? Podia haver um estágio ou outra oportunidade. Nesse dia, cheguei ao escritório e conduziram‑me a uma sala. Entrou um grupo de homens com fatos escuros e o mais alto deles, que me parecia familiar, avançou e disse: “Bem‑vindo, Sr. Berger. Por favor não se preocupe, explico tudo mais tarde.” Fui apresentado aos outros como representante da embaixada da República do Ruanda. Uma grande surpresa para mim, no mínimo!

Levaram‑me de seguida a uma sala com uma mesa redonda e bandeiras de várias nações, incluindo a do Ruanda, que tinha em frente dois crachás com nomes: um para o embaixador do Ruanda e outro para mim. Estava numa reunião sobre o desenvolvimento de acordos de cooperação para apoiar programas multinacionais entre as seguradoras estatais na África Setentrional e Ocidental e a Allianz. A seguir à reunião, perguntaram‑me se gostaria de me tornar assistente de projeto. Pagavam‑me 100 marcos alemães por dia (o equivalente a €50 hoje), que era uma fortuna para mim, na altura.

Essa função levou‑me ao Senegal, à Costa do Marfim, à Tunísia e a Marrocos. No entanto, não foi um percurso sem acidentes. Por exemplo, tivemos de apanhar o penúltimo avião a sair da Argélia antes de estalar a guerra civil entre o governo e os grupos rebeldes islâmicos em finais de 1991.

Depois, passei quatro anos com a Allianz enquanto completava os meus estudos e, ao fim do projeto, ofereceram‑me uma posição a tempo inteiro. Contudo, já recebera uma oferta da Gerling Insurance. Mas regressaria à Allianz noutro momento da minha carreira.

Quais são os ingredientes fundamentais para uma liderança forte e de sucesso?

Conhecer as pessoas e dar‑lhes ouvidos é fundamental para perceber em que estado está a organização. Só assim podemos estabelecer os nossos esforços para alinhar as pessoas e entusiasmá-las com uma nova visão ou estratégia. Nos meus primeiros meses com a Swiss Re, fiz uma “digressão de auscultação”. Viajei para 20 destinos – pela Europa, América do Norte, América Latina, Ásia e África – para ficar a conhecer as nossas equipas, e falar com os nossos colaboradores e stakeholders, bem como reunir‑me com corretores e clientes.

Gosto de ser visível e acessivel. No entanto, acredito que qualquer colaborador, independentemente do seu papel ou nível, pode ser líder no que toca a agarrar oportunidades na sua área de influência. A nossa iniciativa interna, “liderança em cada posto”, concentra‑se em fomentar a responsabilidade pessoal e unir esforços que estimulem uma tomada de decisão mais rápida e uma colaboração de alto desempenho nas equipas, sem necessariamente precisar de um líder para dar o impulso.

A forma como se lida com contrariedades é importante para se melhorar e desenvolver aptidões de liderança. Pode partilhar algum exemplo?
 
Participei num dos nossos eventos internos “Noite da Experiência”, em que os líderes partilham os seus fracassos no intuito de ajudar a desmistificar a negatividade que lhes está associada.

Falei sobre um momento na minha carreira profissional em que, como líder, não me apercebi de um esgotamento grave de um dos meus colaboradores. Foi um forte golpe para mim, já que acreditava ter capacidade para lidar com as pessoas e, assim sendo, devia ter reconhecido o problema mais cedo. O que aprendi é que tomar conta dos nossos começa pelo líder mas, em última análise, necessita de uma rede de apoio mais ampla, em que se unem forças

Pode falar-nos mais dos negócios na América Latina, incluindo as joint ventures com parceiros de destaque nos serviços bancários e financeiros? 

A América Latina é um mercado de grande crescimento e estamos satisfeitos e orgulhosos por a nossa carteira na região representar cerca de 12% dos nossos prémios brutos. Claro que, como noutros mercados de grande crescimento, a região pode ser volátil, por isso é preciso ter uma visão a longo prazo.

Vemos a volatilidade económica dos países de forma individual, como no caso do Brasil. Há reformas, como as das pensões, que se mostrarão um ponto de viragem para níveis superiores de atividade na economia e investimento. Sim, ainda há incertezas mas, quando se fala com os habitantes, dizem que é impossível piorar, pelo que qualquer reforma trará melhorias. Portanto, ao já operarmos no país e compreendermos a sua dinâmica, participaremos no percurso ascendente.

A Swiss Re Corporate Solutions tem uma forte presença na América Latina, apoiada por duas das nossas parcerias em joint ventures. Acreditamos que, no nosso segmento de negócio, o crescimento nestes mercados é difícil de atingir organicamente em escala. Foi por isso que identificámos os parceiros certos — ao combinar a sua capacidade de acesso ao mercado com o nosso conhecimento do setor, especialização e ferramentas, adquirimos outra relevância no mercado.

Estabelecemos uma parceria com a Seguros Confianza, o principal segurador de especialidades na Colômbia, que oferece aos seus clientes empresariais acesso local aos nossos produtos e serviços de seguro para empresas. No Brasil, temos uma joint venture com a Bradesco Seguros, que criou uma seguradora líder na cobertura de riscos corporate, com uma rede de distribuição de mais de 4.500 agências bancárias e aproximadamente 40.000 corretores e mediadores de seguros.

Falando agora de outra região em crescimento, África. O Grupo MDS e a Brokerslink têm uma forte e crescente presença em África. Como vê as perspetivas de crescimento do continente, bem como as oportunidades internacionais e a nível nacional para o setor segurador?
 
Na economia global e no mundo dos seguros, o objetivo é o crescimento. Olhando para os números do produto interno bruto (PIB) vemos vários países africanos a encabeçar a lista. Em termos relativos, estes países têm um crescimento saudável do PIB, pelo que a questão é: quais são as perspetivas? O continente africano tem um potencial tremendo, até por causa da sua composição demográfica e capacidade de incluir os jovens na atividade económica.

Contudo, tentar trabalhar em África a partir de um gabinete remoto fora do continente não resulta; se não formos vistos, se o nosso compromisso não for visível, será difícil ter sucesso. Assim que nos comprometemos, há que fazer escolhas e determinar prioridades. Não se pode abarcar todo o continente.  

Embora a penetração dos seguros ainda seja baixa nesta região, temos de ser mais inteligentes. Não podemos aplicar as lições de mercados mais maduros quando estes estavam a abrir‑se. Por exemplo, as gerações de hoje deram grandes saltos em frente no uso de tecnologias como os telemóveis. Quando se imagina as funcionalidades que os telemóveis podem dar às pessoas, em comparação com uma linha fixa, vemos a dimensão do grande salto tecnológico que a população deu.

Para o setor segurador, deixou de ser possível pensar de forma tradicional sobre os canais de distribuição. Em vez de agências, olhamos para o acesso às redes móveis. As ferramentas já existem mas precisamos de pensar a nível local, não global, ou se podemos replicar um modelo de sucesso usado no passado e aplica‑lo a um novo continente ou mercado.

Outro aspeto que seguradores e corretores devem considerar é que África é um território dividido em 54 países diferentes. Para vender seguros, é preciso ter licença em cada um desses países. Mas, muitos deles têm populações abaixo dos dez milhões, pelo que não faz sentido, do ponto de vista comercial, alocar fundos e recursos a cada país africano de forma individual. É por essa razão que eu advogaria o princípio da integração regional, semelhante ao utilizado na criação de um mercado unificado dos seguros na União Europeia, com a sua abordagem de liberdade na prestação de serviços. Aplicando este pensamento ao continente africano, poderíamos gerar crescimento em territórios de maior dimensão e mercados viáveis, o que provavelmente atrairia mais investidores do ponto de vista dos seguros.

O crescimento começa com a infraestrutura, pelo que é nosso dever segurar e proteger as infraestruturas locais, torná-las resilientes. À medida que se desenvolvem os portos, ferrovias e aeroportos do continente, África tornar-se-á um mercado do futuro e expandiremos o nosso apoio ao continente através de atividades em torno das infraestruturas.

Swiss Re Centre for Global Dialogue, Rüschlikon (Zürich)

O papel e relevância dos corretores provocam diferentes opiniões. Qual é a sua visão para o futuro da distribuição de seguros de empresas?
 
Os corretores são parceiros de negócio importantes, mas a questão tem de ser: que papel desempenham? Em termos tradicionais do mercado de seguros, o corretor era o intermediário entre a seguradora e o segurado. Seguindo em frente, o acesso aos clientes é importante mas, com a tecnologia, temos de compreender o verdadeiro significado de “acesso”. O corretor será realmente o intermediário, ou haverá outros papéis que possa desempenhar no futuro? Talvez um consultor ou conselheiro do cliente, ou um parceiro no ecossistema.

A mesma questão sobre o papel pode aplicar‑se ao segurador. A Swiss Re Corporate Solutions decidiu que não quer limitar‑se a ser um fornecedor de capacidade. Os nossos valores vão para além disso. Sim, temos um balanço sólido, mas também temos um conhecimento profundo sobre risco. Tanto os clientes como os corretores valorizam isso. Acreditamos que, combinando o nosso conhecimento com a tecnologia temos uma oferta diferenciada que poucos no setor podem garantir. Portanto, com o parceiro de negócios certo, podemos trabalhar em conjunto para abordar as vulnerabilidades críticas de cada cliente.

Precisamos de uma compreensão conjunta daquilo que os clientes precisam e, para abordar essas necessidades, temos de determinar entre nós quem acrescenta mais valor e, em seguida, a melhor forma de ajudar os clientes a resolver os seus problemas.

No futuro, penso que teremos menos conversas sobre quem tem o cliente. O “muro” entre o segurado e o intermediário de um lado, e quem fornece a capacidade do outro, irá desaparecer. O modelo atual está desatualizado, é caro e já não acrescenta valor. Os clientes também perguntam cada vez mais para onde vai o dinheiro que pagam pela apólice e onde é que recebem valor. No mundo atual, 40% de cada dólar do prémio vai para o rácio de despesa. Temos de perguntar o que é que aporta valor e o que pode ser reduzido. Caso contrário, não temos futuro neste setor.

Os ecossistemas são os novos mercados económicos e empresariais; combinam uma variedade de serviços e fornecedores numa plataforma para oferecer uma experiência holística ao cliente. De acordo com um relatório recente do Instituto Swiss Re sobre Ecossistemas Digitais, os ecossistemas alargam cada vez mais o âmbito da criação de valor no seguro e resseguro. A McKinsey, consultora em gestão de empresas, diz que, até 2025, 30% de todo o rendimento global será gerado por ecossistemas. Estão a romper as cadeias de valor existentes, pelo que precisamos naturalmente de reagir a este desenvolvimento.

Por que decidiram criar uma parceria com a Brokerslink no desenvolvimento de uma plataforma dedicada de gestão de programas de seguro internacional para os seus partners e afiliados por todo o mundo?
 
A Brokerslink combina uma empresa global de corretagem e uma rede mundial de corretagem com partners e afiliados em mais de 113 países. Tal como nós, a Brokerslink especializa‑se em conhecimento profissional e inovador sobre o seguro e a gestão de risco, ligações em mercados internacionais, e serviços de consultoria líderes no mundo.

Estamos entusiasmados por colaborar com a Brokerslink numa plataforma de negócios que permitirá aos corretores seus partners e afiliados, gerir e fornecer programas estruturados, conformes, internacionais e transfronteiriços como parte do seu portefólio internacional crescente a partir de uma única plataforma online.

Na Brokerslink descobrimos um parceiro que partilhava a nossa opinião de que o fornecimento de produtos e serviços a clientes multinacionais podia ser melhorado e procurava formas de resolver os desafios colocados por esses clientes. Já tínhamos uma relação de confiança, pelo que pudemos juntar‑nos para explorar formas de alinhar os nossos interesses mútuos. A solução que criámos combina a nossa tecnologia moderna e conhecimento de risco numa plataforma adaptada para ir de encontro às necessidades da Brokerslink e da sua rede de partners e afiliados.

Não devemos subestimar o trabalho e esforço necessários para fornecer esta solução; nem o trabalho que continuará a assegurar que somos os mais bem colocados para enfrentar as mudanças futuras e inevitáveis do nosso mercado. É por isso que ter o parceiro certo é tão importante para chegar a uma solução. Esta inovação e trabalho darão frutos; a Brokerslink poderá gerir todos os seus negócios multinacionais e transfronteiriços nesta plataforma única, o que significa que seremos mais rápidos, mais eficientes, e isso traduzir-se-á em melhor serviço para os nossos clientes mútuos.

Quais são os riscos críticos que as nossas sociedades enfrentam hoje e como pensa que o setor segurador pode continuar a proporcionar soluções de risco relevantes e de valor?
 
Além dos riscos crescentes que advêm da globalização, as nossas sociedades enfrentam riscos devidos a fatores tecnológicos e económicos, acontecimentos geopolíticos, alterações climáticas e problemas de saúde como as pandemias (caso do atual COVID‑19) — e a lista não acaba aí. Com estas tendências, os seguradores precisam de desempenhar um papel central assegurando a resiliência sistémica e social investindo na prevenção de riscos, absorvendo choques e ajudando as empresas a regressar à sua atividade após eventos adversos, como no caso da atual crise global.

Atualmente isto implica partilhar o nosso conhecimento do risco para desenvolver planos consistentes que ajudem os nossos clientes a retomar as operações em segurança e evitar reveses ou interrupções de negócio adicionais. Também começamos a realizar visitas virtuais aos locais. Através da tecnologia, os nossos engenheiros de risco podem identificar os detalhes específicos de cada local e ajudar as empresas as mitigar esses potenciais riscos e, ao mesmo tempo ajudar a proteger não só a sua saúde e segurança, como a de outros. Estes são apenas dois exemplos como na Swiss Re Corporate Solutions, investimos continuamente nas soluções de seguro mais avançadas, bem como em soluções de risco inovadoras (IRS – Innovative Risk Solutions) para, da melhor forma possível, respondermos às solicitações sempre em evolução dos nossos clientes globais.

Dizem-nos que o mundo caminha para a catástrofe ambiental, crescendo as preocupações em torno dos fenómenos meteorológicos extremos e do impacto das alterações climáticas. Como vê essa questão? Que papel deve desempenhar o setor segurador na resposta a estes riscos?
 
Gerir os riscos climáticos e de catástrofes naturais está no cerne do que fazemos. A subida das temperaturas e a precipitação mais intensa aumentam a probabilidade de danos causados por incêndios, secas, ondas de calor, chuvas torrenciais e inundações em vários locais do mundo. Se não forem mitigados, alguns destes riscos podem tornar‑se quase impossíveis de segurar ou com coberturas com custos muito elevados no futuro. Isto aumentaria ainda mais o protection gap. Portanto, a nossa estratégia para as alterações climáticas assenta em aprofundar o nosso conhecimento e compreensão dos riscos relacionados com o clima, bem como quantifica‑los e integra‑los nos nossos quadros de gestão de risco, subscrição sustentável e investimento.

Desenvolver produtos e serviços inovadores para mitigação ou adaptação ao risco climático é vital e levamos essa responsabilidade muito a sério. Por exemplo, estamos a ajudar a proteger o maior recife de coral no hemisfério ocidental, a Barreira de Corais Mesoamericana no Mar das Caraíbas, com um seguro contra os riscos provocados por furações — a primeira solução do género em todo o mundo.

A sustentabilidade é uma estratégia prioritária para a Swiss Re e a estratégia para todo o Grupo é integra‑la em todas as nossas atividades. Definimos alvos ambiciosos: ajudar a mitigar o risco climático e promover a transição energética, lutar para reduzir as vulnerabilidades sociais com soluções de seguro, resseguro e investimentos, e aumentar a disponibilidade e acessibilidade económica do seguro e do conhecimento de risco por todo o mundo.

Em minha opinião, o setor segurador deve continuar a divulgar informação sobre os riscos das alterações climáticas através do diálogo com clientes, colaboradores e público e tornar‑se um forte defensor de um quadro regulamentar mundial para as alterações climáticas.

Estão os seguradores a fazer o suficiente para abordar o protection gap através de produtos mais acessíveis e soluções como a dos seguros paramétricos, que apoiem as comunidades onde operam?

O acesso ao seguro é um fator importante de contribuição para o desenvolvimento económico e resiliência social e a Swiss Re trabalha estrategicamente com organizações do setor público para melhorar a capacidade de recuperação e resiliência ao risco. Compreender estes riscos e as suas implicações para as comunidades obriga-nos a formar e gerir parcerias com as melhores instituições académicas e científicas do mundo. O nosso Instituto Swiss Re facilita investigação de ponta não só a stakeholders internos e externos mas também ao setor segurador global, para alimentar a partilha de conhecimento e a colaboração necessárias para cumprir a nossa responsabilidade global.

Dado o interesse crescente nos seguros paramétricos, a Swiss Re Corporate Solutions oferece e continua a desenvolver uma gama alargada de produtos deste tipo, incluindo uma solução autónoma de seguro contra o nevoeiro e o primeiro seguro de alerta contra tufões na Ásia. No Japão, introduzimos soluções paramétricas em parceria com um banco local e somos o primeiro e único segurador no Japão com licença para este tipo de soluções. Também disponibilizamos seguros paramétricos contra ventos e terramotos nos Estados Unidos e, na Europa, damos cobertura a empresas expostas a níveis de água elevados ou reduzidos.

A diversidade e a inclusão são elementos cruciais para o sucesso do setor segurador. Como é que a Swiss Re assegura essa necessária diversidade no mundo empresarial de hoje?
 
O Grupo Swiss Re, globalmente, tem colaboradores com origens em mais de 100 nações, com mais de 80 escritórios em cerca de 30 países. Na Corporate Solutions, temos colaboradores de mais de 50 nações. Para mim, atrair e envolver colaboradores talentosos de origens diferentes é a chave de viver autenticamente a promessa da nossa marca — de sermos “mais inteligentes, juntos”.

Através de inquéritos à participação interna, sabemos que os nossos colaboradores apreciam muito que o Grupo valorize a diversidade e tenha uma cultura de colaboração, inclusão e alta integridade. Estamos a um nível superior ao do benchmark da indústria financeira e seguradora global, pelo que nos orgulhamos de dizer que fomentamos um local de trabalho diverso e inclusivo.

A inovação está no cerne da Swiss Re Corporate Solutions. Pode contar-nos como a tecnologia tem ajudado a planear e desenvolver a vossa atividade?
 
A inovação é uma palavra bem utilizada mas existe um fator simples, porém importante, a considerar: o que é relevante para o cliente? Pôr o cliente em primeiro lugar tem de ser o ponto de partida da inovação. Se inovarmos por inovar, não ajudamos ninguém. Mas, se olharmos para o que é relevante para o cliente, já estamos a ganhar e a concentrar os nossos recursos em dar resposta à pergunta certa.

Compreendendo que a tecnologia está a mudar a nossa indústria e as dos nossos clientes, continuamos a investir em soluções inovadoras, impulsionadas pela tecnologia, que alimentam os nossos pontos fortes e promovem diferenciação. A nomeação do nosso primeiro Diretor de Inovação e Transformação, Samrat Dua, exprime a importância estratégica que atribuimos a essas atividades.

Algumas das nossas iniciativas incluem trabalhar dentro de ecossistemas para fornecer soluções industriais ou partilhar a nossa plataforma tecnológica de gestão de programas internacionais com parceiros incluindo a Brokerslink. Temos de ser curiosos, interagir com os dados e criar modelos, e conversar com os clientes para os ajudar a resolver os seus problemas.

O papel dos dados e das ferramentas analíticas, assim como a sua utilização, cresceram exponencialmente. Como está a Swiss Re Corporate Solutions a tirar o máximo partido destas ferramentas, cada vez mais importantes?
 
Estamos a concentrar-nos em ferramentas inteligentes de análise de dados para melhorar a eficiência das nossas operações e aprofundar a nossa perspetiva sobre clientes, mercados e riscos. A nossa plataforma interna, o Stargate, que lançámos em 2018, é um exemplo perfeito de como pomos os dados em ação.

Permite aos utilizadores conduzir operações analíticas em escala, disponibilizando todos os nossos dados de maneira uniforme num “lago central” de dados em vez de os dispersar por bases de dados e sistemas. O Stargate permite ao utilizador médio realizar operações analíticas complexas através de aplicações intuitivas, permitindo-lhe assim resolver as suas necessidades de “data science” e “machine learning”.

Já tivemos casos de grande sucesso na aplicação das nossas novas capacidades analíticas. Por exemplo, usámos conhecimento derivado dos dados para criar um modelo de pontuação que ajuda os subscritores na nossa unidade US Accident & Health a priorizar as candidaturas. Fazendo corresponder dados que mostram a probabilidade de enquadramento de um pedido de cotação na nossa política de subscrição, já melhorámos significativamente a eficiência de todo o nosso processo. Finalmente, a disponibilidade acrescida de dados e ferramentas analíticas abre oportunidades no sentido de alargarmos o âmbito das nossas soluções paramétricas.

Esteve em Portugal pela primeira vez em 1974. Que recordações tem desses tempos?

Há uma expressão portuguesa, “saudade”, que é quase intraduzível. A melhor forma de a descrever é como sentimento, é um desejar estar com certa pessoa ou coisa que lembramos com carinho, sabendo que nunca mais nos reencontraremos.

Frequentei uma escola alemã internacional em Lisboa mas tive de aprender a língua portuguesa e a história do país. Por exemplo, estudámos o grande terramoto de Lisboa de 1 de novembro de 1775. O terramoto, o maremoto e os incêndios que se seguiram foram devastadores para a cidade; foi uma data histórica importante mas também um ponto de viragem para Lisboa. A seguir ao terramoto, sob a liderança do Marquês de Pombal, Lisboa foi reconstruida com os primeiros edifícios resistentes a terramotos do mundo — uma inovação arquitetónica da altura. Pombal era muito disciplinado, quase como um alemão!  

Quando penso nos meus primeiros anos, o tempo que passei em Portugal foi o melhor da minha infância. Eu tinha oito anos e chegara a Portugal a meio da Revolução dos Cravos. Nasci no Ruanda e passei pelo derrube do governo num golpe de estado em 1972. Quando nos mudámos para Portugal, já conhecia situações assim. Seguem um padrão, ocupando localizações estratégicas como estações de rádio e TV. Vi o mesmo em Lisboa e reconheci que se passava algo politicamente significativo. De facto, reconheço agora que foi um momento espantoso e transformador. Lembro‑me de todos os murais revolucionários pela cidade e das canções da altura, incluindo a “Grândola, Vila Morena” de José Afonso, um dos mais influentes músicos populares e políticos da história portuguesa.

A Swiss Re lembra‑me esses tempos, já que tornar o mundo mais resiliente exige uma forte vontade de transformação e participação constantes. Foi esta vontade que me fez querer fazer parte da viagem da Swiss Re.   

A Crise Pandémica

A nossa entrevista com Andreas Berger teve lugar antes de sermos atingidos pela crise pandémica da COVID‑ 19. Recentemente, entrámos em contacto para conhecer a sua opinião sobre a capacidade de reação do setor segurador e a forma como a Swiss Re Corporate Solutions tem respondido à pandemia.

A COVID‑19 criou uma crise global que apela à missão do Grupo Swiss Re: “tornar o mundo um lugar mais resiliente”. Ao longo dos 150 anos da nossa história, vimos muitas crises e, graças ao nosso sólido balanço e profundo conhecimento do risco, continuámos a servir e a apoiar os clientes em tempos difíceis. Sendo previsíveis novas fases complicadas, desenvolvemos uma cultura de trabalho ágil e infraestruturas sólidas. Esta preparação, combinada com o trabalho intenso dos nossos colegas dos departamentos de operações, comerciais e de sinistros, permitiram à Swiss Re Corporate Solutions manter o nosso compromisso de continuarmos acessíveis, dando resposta aos clientes e corretores durante a pandemia atual. Apesar da distância física, as minhas relações com colaboradores, clientes, corretores e colegas do setor tornaram‑se ainda mais fortes agora que procuramos formar uma comunidade, em termos pessoais e profissionais, e tentamos construir um amanhã mais sólido.

De facto, precisamos de olhar para o futuro. A COVID-19 não só tem impacto em todo o nosso setor, mas também revela os seus problemas: o seguro de empresas, com os seus sistemas, processos e mecanismos de venda antiquados, tem‑se adaptado lentamente a uma era digital que valoriza o atendimento rápido e eficiente ao cliente. O setor necessita de uma visão integral da cadeia de valor que a abranja do princípio ao fim e de abordagens sistemáticas de recolha, análise e uso de dados. Estas deficiências resultam muitas vezes em experiências menos positivas para os clientes, que merecem melhor.

Temos de repensar a nossa abordagem e usar a pressão da crise atual como catalisador de mudança. A COVID‑19 traz uma nova realidade; cabe‑nos definir os seus contornos. Abordando desde já as ineficiências do setor, melhoraremos a experiência do cliente e estaremos mais bem preparados para as crises globais do futuro. No fim, podemos concluir que temos a força necessária para tornar o mundo um lugar mais resiliente.

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