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Publicado em Edição 13

Foco na Colaboração

IIS, uma organização de relevo

Num momento em que a indústria seguradora global enfrenta sérios desafios e oportunidades, esforçando-se por manter a sua relevância num mundo em rápida evolução, a FULLCOVER falou com Michael Morrissey, Presidente e CEO da International Insurance Society e com mais de 50 anos no setor, sobre a colaboração e a necessidade de mudar o conceito e o papel dos seguros.

A indústria seguradora tem de mudar, disso não há dúvida. Uma indústria que não tenha sido fundamentalmente alterada nos últimos 400 anos não pode esperar satisfazer as exigências de um mundo que muda a uma velocidade extrema. A aceitação desse facto e a implementação das mudanças necessárias são duas coisas muito diferentes, e num setor cujos atores não são conhecidos pelo seu instinto de colaboração, começam a parecer algo difícil de resolver.

IIS - a missão

Contudo, há esperança numa transformação ampla e significativa, através da International Insurance Society (IIS). Formada em 1965, a IIS assumiu a responsabilidade de criar uma maior colaboração no setor para se compreender os desafios que este enfrenta e traçar caminhos para o desempenho de um novo papel na sociedade. Com representantes de 90 países, os seus membros representam stakeholders nos setores público e privado, incluindo executivos de topo dos seguros, reguladores internacionais e reputados investigadores da indústria seguradora para promover a resiliência, impulsionar a inovação e estimular o desenvolvimento dos mercados.

No entanto, não é uma organização criada para ajudar os seus membros a vender mais apólices. Opta por uma abordagem muito mais profunda e intelectual no desejo de compreender a relevância e propósito dos seguros hoje e amanhã.

"Não é uma organização de defesa de interesses ou para fazer lóbi. É uma organização que acredita que, tendo todos os interessados da indústria a participar, o intercâmbio de ideias produzirá ideias melhores", diz o CEO da IIS, Mike Morrissey.

Mike descreve‑nos uma organização diversa e inclusiva que procura melhorar o setor através do contributo de todas as partes envolvidas na cadeia de valor dos seguros, dos seguradores aos corretores e às organizações responsáveis pelas políticas públicas e instituições globais como as Nações Unidas e o Banco Mundial.

Esta abordagem quase ecuménica dá a Morrissey e aos seus colegas uma visão de 360 graus, não só da indústria como também das economias e sociedades que serve. E acredita que a indústria precisa desta visão mais do que nunca, agora que a natureza e velocidade sem precedentes das perturbações na sociedade vão alterar fundamentalmente a forma de perceção, interação e utilização dos seguros pelos clientes.

Admirável mundo novo
 
“A velocidade da mudança no nosso mundo torna‑a mais disruptiva do que tudo o que já vimos até agora”, diz Morrissey.
Refere disrupções ao nível tecnológico como a Internet das Coisas, económicas como a resultante da economia da partilha e comércio online, profundas mudanças sociais, o envelhecimento das populações do primeiro mundo e ainda as alterações climáticas como desafios fundamentais.

“À luz destas mudanças, vejo cinco grandes tendências que, penso, terão maior impacto sobre a indústria seguradora, a curto e médio prazo.” Acredita que se fará maior uso da automatização, IA e robótica na estruturação do pricing na subscrição e nos sinistros, e que cada vez mais os seguros para as empresas serão vendidos online, de forma comparativa, muito à imagem do seguro automóvel.

Também prevê que a tendência recente de consolidação no mercado de corretagem vai continuar e que as mudanças na dinâmica demográfica e na economia impulsionarão a procura, por parte dos consumidores, de capacidade de prestação de serviços e vendas omni‑canal.

Mas, mais do que tudo, vê como uma característica predominante na indústria seguradora do futuro, a corrida no recrutamento de recursos humanos. . “O desequilíbrio entre oferta e procura de colaboradores qualificados criará uma enorme guerra pelo capital humano”, afirma. 

"Já vejo as empresas a investir em tecnologia para maximizar o valor que oferecem aos colaboradores, a proporcionar aprendizagem contínua e a minimizar o impacto da falta de trabalhadores qualificados. Acrescentaria ainda que o setor precisa de desenvolver uma força laboral que reflita a diversidade crescente da nossa sociedade global. Só uma força laboral diversa e inclusiva pode compreender e antecipar necessidades de cobertura e as abordagens de distribuição apropriadas, proporcionando ao cliente uma experiência do século XXI." 

Os corretores não só desempenham um papel crítico na prestação de Seguros 4.0 como provavelmente são quem está na melhor posição para o fazer.

Seguros 4.0
 
Esta abordagem, acredita Mike Morrissey, permite à indústria responder eficazmente à Quarta Revolução Industrial, termo criado pelo Professor Klaus Schwab, fundador e presidente executivo do Fórum Económico Mundial.

Concisamente, a Quarta Revolução Industrial, segundo Schwab, é “caracterizada por uma série de novas tecnologias que fundem os mundos físico, digital e biológico, tendo impacto em todas as disciplinas, economias e indústrias e mesmo pondo em causa as ideias sobre o que significa ser humano.”

Morrissey acredita que a passagem para aquilo a que chama Seguros 4.0 é de importância vital se o setor pretender manter‑se relevante neste mundo novo, potenciado digitalmente, com maiores riscos e oportunidades.

Segundo Morrissey, os Seguros 4.0 vão muito além de novos produtos, novos riscos e novas formas de fazer chegar os seguros aos clientes. Trata‑se de um conceito completamente novo do que os seguros são e daquilo que podem fazer pela sociedade.

"As seguradoras têm historicamente, vendido proteção para compensar as pessoas pelas perdas sofridas após a sua ocorrência. Penso que, no mundo dos Seguros 4.0, os clientes grandes e pequenos, empresariais e individuais, quererão cada vez mais adquirir mitigação e prevenção de perdas por via de serviços consultivos", explica.

O papel chave do corretor
 
“A consultoria em gestão de risco tornou‑se chave e os corretores estão em vantagem porque conseguem encontrar o melhor preço e os melhores produtos para servir as necessidades individuais dos clientes e tirar partido do conhecimento de uma vasta gama de seguradoras e empresas que prestam serviços relacionados com seguros em benefício do cliente”, diz.

“Os corretores não só desempenham um papel crítico na prestação de Seguros 4.0 como provavelmente são quem está na melhor posição para o fazer.”

Contudo, acautela que nem todos os corretores estão nessa posição ou têm capacidade de prestar esse tipo de serviço. De facto, acredita que modelos como o utilizado pela Brokerslink oferecem a maior possibilidade de o setor chegar aos Seguros 4.0.

“Preenche uma necessidade de grande urgência e importância porque a indústria, agora, funciona por ecossistemas, em vez de sistemas de integração vertical, um ecossistema de diferentes organizações com diferentes capacidades”, diz.

“Ter uma organização como a Brokerslink, onde há consultoria independente e especializada de gestão de riscos com conhecimento local integrado, apoiada por uma plataforma tecnológica e administrativa global, é uma grande vantagem competitiva.

“Porque nem todos, mas só alguns dos grandes corretores, construiram um sistema global algo homogeneizado, em prol da eficiência”, acrescenta.

Compara este sistema homogeneizado com o ato de compra de batatas fritas na McDonald’s — podem não ser as melhores mas são iguais em qualquer parte do mundo. Embora diga que é uma má analogia, acredita que alguns dos serviços oferecidos por alguns dos maiores corretores globais optaram por esse caminho da homogeneidade. Embora os clientes possam contar com os mesmos produtos e serviços globalmente, estes podem não ser os mais apropriados para eles.

“Penso que, tendo muitos afiliados locais e especializados, a Brokerslink oferece serviços mais personalizados. Isso é muito positivo”, afirma.

Desafios vs. oportunidades
 
Além disto, Morrissey vê ainda maiores oportunidades para o setor — tanto em termos de negócio como na sua capacidade de apoio à sociedade — quando este olha para além das suas fronteiras tradicionais.

O Insurance Development Forum (IDF), organizado pela IIS em prol da indústria seguradora juntamente com líderes das Nações Unidas e Banco Mundial em 2016, é uma parceria publico‑privada que pretende enfrentar os desafios colocados pelas ocorrências climáticas adversas e o protection gap e explora o papel do seguro na criação de maior resiliência e sustentabilidade globais. É através desta organização, da qual a IIS constitui o Secretariado, que Morrissey vê a maior oportunidade para o setor segurador.

“Os estados são os seguradores de última instância e, quando forçados a “recolher os destroços” após um desastre natural, a única forma de financiar esse esforço é aumentar os impostos ou reduzir os serviços aos cidadãos”, diz.

“Portanto, cada vez mais os Estados adquirem seguros, o que é uma grande oportunidade para a nossa indústria. E, é claro, mais empresas e mais famílias ficarão cobertas através das iniciativas publico‑privadas como o micro‑seguro.”

Morrissey afirma que, através do IDF e outras iniciativas globais, tem vindo a surgir uma abordagem nova e mais colaborativa no seio da indústria: “As seguradoras já não disputam entre si um lugar à mesa. A mesa está a crescer e o mercado também. Sente‑se cheio de entusiasmo com o futuro de um setor que começa a encontrar um lugar muito mais significativo na sociedade, a nível local e global.

“Trabalhando nesta indústria há 50 anos, nunca houve um momento com tantas e tão interessantes oportunidades”, declara.

"Há desafios, claro, mas nunca houve uma altura em que a nossa indústria tivesse tantas oportunidades de prosperar e ter um impacto positivo na sociedade. É um excelente momento para a nossa indústria demonstrar o nobre serviço que presta ao mundo."

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