Grande Entrevista

Publicado em Extra Cover

Em conversa com Maria João Sales Luís

A FULLCOVER falou com Maria João Sales Luís, Administradora da Multicare, sobre o seu percurso no mundo dos seguros, o papel da Multicare no mercado segurador português, nomeadamente durante a crise pandémica os desafios que se colocam ao seguro de saúde nos próximos tempos.

Estudou Gestão e Administração de Empresas na Universidade Católica. O que a fez ingressar no setor segurador?

Ingressei no setor segurador praticamente após terminar a minha licenciatura, por convite de um professor da Faculdade, o Dr. Eduardo Madeira Correia, na altura administrador da Companhia de Seguros Império, que desafiou um grupo de alunos a juntarem-se à seguradora. A Império era uma empresa que me fascinava pelo facto de ser uma seguradora líder, não só em quota de mercado, mas conhecida sobretudo por ser muito inovadora e por ter uma política de recursos humanos muito centrada no desenvolvimento dos seus colaboradores. Acresce que tinha tido durante o curso, no âmbito da cadeira de Gestão de Pessoal, a oportunidade de visitar o seu muito avançado departamento de Formação, visita que me deixou impressionada pela diversidade de linhas de negócio e competências que uma seguradora tinha, bem como pela sua importantíssima componente de intervenção económica e social que obrigaria a uma constante evolução, aquela a que a evolução da própria sociedade obriga.

Por tudo isto não hesitei quando fui convidada em 1982 a iniciar a minha atividade profissional neste setor e nele me mantive, já lá vão 40 anos, sempre entusiasmada pela necessidade de aprender e evoluir e sempre com um sentimento de realização profissional e pessoal.

 

Tem um percurso de carreira muito rico e variado. Quer falar-nos um pouco das empresas por onde passou e das funções que desempenhou?

De facto, sem nunca ter saído da empresa onde me iniciei profissionalmente, tive oportunidade de passar por vários ramos de seguros e por vários grupos empresariais, neste caso por força de processos de aquisição e fusão a que a Império foi sujeita.

Iniciei-me no Marketing, área de entrada por onde todos passámos antes de sermos colocados nas diferentes áreas de negócio e que nos deu a perspetiva e o conhecimento básico, mas fundamental, dos diferentes ramos de seguro e das principais funções da seguradora, em particular a função comercial. Depois de um ano, fui desafiada a ir para o Ramo Vida, integrar uma nova área que se estava a desenvolver dedicada a uma nova modalidade de seguros de vida, os seguros de capitalização. Tal permitiu-me conhecer desde logo outros mercados, nomeadamente o mercado francês, que nessa altura tinha grande influência no nosso mercado e que em muito inspirou o desenvolvimento dos seguros de capitalização e dos fundos de pensões. A discussão acerca da insustentabilidade da Segurança Social e da impossibilidade do Estado continuar a assegurar o mesmo nível de rendimento na reforma, era exatamente a mesma que agora, 30/40 anos depois, estamos a ter. Na altura havia uma grande expetativa de que o setor segurador fosse o motor do desenvolvimento dos 2º e 3º pilares da reforma, o que acabou por não acontecer, apesar do dinamismo da altura e dos muitos produtos que foram lançados. Foi uma experiência muito enriquecedora fazer parte de uma equipa que foi pioneira na constituição de Fundos de Pensões e no lançamento de produtos de capitalização, tendo a Império sido a empresa que lançou o primeiro PPR em Portugal.

Após 14 anos no ramo Vida, metade dos quais como responsável do ramo, fui convidada para integrar a área de sinistros automóvel, o que constituiu um verdadeiro desafio para mim. A minha formação era financeira, tinha estudado adicionalmente ciências atuariais, considerava que não tinha competências para liderar uma área eminentemente jurídica, queria sair da empresa. Mas um amigo aconselhou-me “vá conhecer e aprender, tem uma boa equipa, faça o caminho com ela. O automóvel é porventura um dos ramos mais interessantes do setor e o que vai fazer é gerir pessoas e recursos e isso você sabe fazer, a competência jurídica têm-na os seus colaboradores”. E assim fiz - “agarrei” o desafio e estive 11 anos a liderar sinistros automóvel, tendo agora a certeza de que foi um dos períodos mais gratificantes e de maior crescimento profissional e individual da minha carreira. Comecei esta nova etapa no ramo Automóvel da Império, passados três anos, por via da venda ao Grupo BCP. Encontrei-me com parte da minha equipa na Autogere e cinco anos depois estávamos a ser comprados pelo grupo CGD, onde a Império Bonança e a Fidelidade Mundial se juntaram e onde tivemos a oportunidade, como grande equipa com muita experiência e ampla casuística, de colaborar com a Associação Portuguesa de Seguradores e o Fundo de Garantia Automóvel, no desenho da proposta razoável para regularização de sinistros automóvel com danos corporais, que foi matéria de Portaria.

Acumulei ainda, durante dois anos, a responsabilidade pelos ramos automóvel e acidentes de trabalho, com o objetivo de transpor para a gestão dos sinistros automóvel os princípios e prática assistencial existentes nos acidentes de trabalho.

Em 2008, após mais de uma década em automóvel, sou novamente desafiada a mudar, desta vez para a área de saúde, concretamente para a administração da Multicare. E cá estou há 14 anos, naquela que considero ser atualmente a área mais interessante do setor segurador, com uma equipa extraordinária, que todos os dias se mobiliza para tratar da saúde de mais de 1 milhão de clientes e me desafia constantemente a aprender e a fazer melhor.

 

Está já há vários anos na Multicare. Quais considera serem os traços mais relevantes do seu contributo para a empresa?

Essa é uma pergunta que provavelmente deveria ser respondida pela minha equipa, que terá uma opinião mais isenta e distanciada, mas eu diria que os traços mais relevantes do meu contributo para a empresa estarão na visão que temos de serviço - serviço aos segurados, aos colegas, aos distribuidores -, no sentido de urgência que colocamos em tudo o que fazemos e na intranquilidade que temos por tudo o que ainda nos falta fazer. A proximidade e a humanização, numa empresa cada vez mais desmaterializada e digital, são qualidades que também nos distinguem.

Enquanto CEO da Multicare, qual é a sua missão?

A minha missão é garantir que toda a equipa esteja alinhada, que todos ajudem a definir o caminho que estamos a percorrer e que todos saibam para onde queremos ir e, acima de tudo, que gostem do que fazem, que o seu trabalho tenha sentido e que cada um encontre no seu quotidiano o propósito da sua vida profissional. Tive o privilégio de ter mentores, alguns chefias, que me mostraram o propósito da minha função, o que por vezes foi o que ajudou a ultrapassar dificuldades e desmotivação, tornando-as em verdadeiras oportunidades de crescimento e desenvolvimento.

A proximidade e a humanização, numa empresa cada vez mais desmaterializada e digital, são qualidades que também nos distinguem.

Ao longo dos anos, a Multicare tem tido inúmeras iniciativas inovadoras, como o lançamento do seguro oncológico, ou uma mais recente aposta na medicina online, na prevenção e também na saúde mental. Quer falar-nos sobre estes temas?

Somos líderes em prémios, mas o que realmente nos confere um lugar de liderança tem sido a inovação, não só a inovação na oferta e nos serviços, mas também o facto de sermos verdadeiros parceiros dos nossos prestadores na sua inovação tecnológica e terapêutica, somos muitas vezes a primeira seguradora a convencionar exames inovadores e novos procedimentos clínicos.

Já há muito que defendemos a importância da prevenção e de que o seguro de saúde não é para ser acionado apenas quando se está doente, mas, fundamentalmente, para prevenir a doença. Em 2009 fomos pioneiros na introdução de check ups anuais sem custos adicionais para os clientes, em toda a nossa oferta standard. A promoção do rastreio e da deteção precoce da doença tem estado no topo das nossas prioridades e, em particular, o rastreio da doença oncológica. Em 2015 fomos novamente pioneiros no lançamento do seguro oncológico, com uma cobertura única e muito abrangente para o tratamento da doença e um programa anual de rastreio e deteção precoce muito completo. Em 2016, em parceria com a Teladoc, líder mundial da tecnologia médica remota, lançámos a primeira plataforma online exclusivamente médica no setor segurador, que tem vindo a desenvolver-se a muito bom ritmo, disponibilizando atualmente consultas de várias especialidades médicas, consultas de psicologia e programas de nutrição e exercício físico. Queremos acima de tudo promover a prevenção e o autocuidado dando acesso rápido, 24H/365D, a cuidados de saúde primários. Esta plataforma foi determinante no apoio que demos aos nossos clientes durante o Covid, ajudando a despistar a doença através de consultas e prescrição de testes. Mas fomos mais além, preocupados com as sequelas da doença, disponibilizámos a todos os clientes que tinham check ups na sua apólice e que foram infetados, check ups de avaliação pós-covid desenhados m função da severidade da doença. Demos em 2020 um novo e importante passo na prevenção com o lançamento do programa Vitality, mundialmente reconhecido, que incentiva e premeia comportamentos saudáveis. E fomos novamente pioneiros ao lançar no ano passado uma cobertura destinada à saúde mental, em regra excluída dos contratos.

Inovamos para robustecer a proteção, a nossa principal prioridade.

 

Durante a pandemia, de entre as seguradoras que excluem este risco, a Multicare foi a única a derrogar as exclusões relacionadas com pandemias, garantindo assim aos seus clientes que contraíssem Covid 19 o acesso às garantias das apólices. O que levou a empresa a tomar esta atitude?

O que nos levou estabelecer um acordo com a Associação Nacional de Hospitais Privados para assistir os nossos segurados com Covid-19 e que não tivessem sido referenciados pelo Serviço Nacional de Saúde, foram três grandes objetivos. Primeiro, assegurar a proteção da saúde dos nossos clientes. Segundo, aliviar a sobrecarga sobre as unidades hospitalares do Serviço Nacional de Saúde, evitando a transferência de doentes Covid-19 que não tivessem sido referenciados pelo SNS e todos os atos médicos associados, contribuindo assim para que se mantivesse a elevada eficiência que o SNS demonstrou. Por último, assegurar o contínuo apoio ao sistema privado de saúde, o qual tem dado um contributo decisivo para a melhoria dos cuidados de saúde da população portuguesa e consequentemente para o desenvolvimento do seguro de saúde em Portugal e cuja estrutura hospitalar se tem mostrado absolutamente decisiva para a fase de recuperação dos tratamentos que ficaram adiados pela pandemia.

Como perspetiva o seguro de saúde num cenário inflacionista e de recessão, que irá diminuir a capacidade económica das famílias e das empresas?

O seguro de saúde tem sido uma linha de negócio muito resiliente. Foi o único ramo que manteve crescimento constante durante a crise económica de 2008-2013 e tem estado a crescer nos últimos anos na ordem dos 9%, estando este ano a crescer acima de 10%. Porém, neste novo cenário macroeconómico que estamos a viver antevejo desaceleração, nomeadamente no segmento de particulares. Já nas empresas o seguro de saúde é um dos benefícios mais valorizados pelos colaboradores, contribuindo simultaneamente para que as equipas se mantenham saudáveis e produtivas. Durante estes dois anos de pandemia surgiram no mercado muitas novas empresas, PME’s e mesmo grandes empresas, a contratarem um seguro de saúde para a generalidade dos seus colaboradores. O que poderá acontecer, perante os aumentos de prémios que as seguradoras já estão a solicitar e as restrições orçamentais das empresas, serão revisões dos planos de garantias, relativamente às quais a nossa posição tem sido a de aconselhar a alocação das verbas disponíveis a coberturas de risco, em detrimento das de consumo, a coberturas de internamento hospitalar e ambulatório que protejam efetivamente as pessoas daqueles custos que terão dificuldade em suportar.

A minha missão é garantir que toda a equipa esteja alinhada, que todos ajudem a definir o caminho que estamos a percorrer e que todos saibam para onde queremos ir e, acima de tudo, que gostem do que fazem, que o seu trabalho tenha sentido e que cada um encontre no seu quotidiano o propósito da sua vida profissional.

Nessa linha, como é que os aumentos dos custos com os operadores de saúde vão impactar o pricing dos seguros de saúde?

Como atrás referi, já estão a impactar. Todos os operadores iniciaram revisões de preços, ainda em 2022, que já se refletem na sinistralidade deste ano e já estão também a rever preços para se aplicarem no início de 2023. Assim, os prémios dos seguros de saúde já estão a ser impactados nas renovações e a sofrer aumentos em linha com a inflação, sendo que o segmento de empresas, que maioritariamente se renova no início do ano, já está em plena “ebulição”, e aqui, volto a dizer, o que é importante é dar prioridade ao verdadeiro risco.

 

Quais as suas principais preocupações relativamente ao seguro de saúde e ao seu futuro?

As minhas principais preocupações quanto aos seguros de saúde são de duas grandes ordens: por um lado, a sua viabilidade económica a longo prazo, face ao envelhecimento da sociedade e inerente desequilíbrio geracional, realidade que em Portugal, como sabemos, assume uma dimensão muito preocupante; por outro, a adequação do modelo de seguro e sua capacidade para conferir proteção a um risco em constante evolução.

O desequilíbrio geracional será porventura o maior desafio que se coloca aos princípios de mutualização em que o seguro de saúde se funda, tendo presente a enorme e cada vez maior pressão dos custos que o envelhecimento traz.

Com o desenvolvimento da medicina, a mortalidade, felizmente, tem reduzido significativamente, mas a morbilidade não, antes pelo contrário, muitas doenças, até aqui letais, felizmente tornaram-se doenças crónicas, porém com elevados custos de tratamento. A cada vez mais acelerada inovação tecnológica e terapêutica, como sabemos, é outro fator de enorme pressão nos custos e os seguros de saúde têm de dar acesso à inovação, o que nem sempre acontece.

Por outro lado, a formulação técnica do seguro de saúde, temporário anual renovável, para um risco que não é discreto, mas continuo, e muitas das suas exclusões e limitações contratuais não se adequam à evolução deste mesmo risco e à função que a seguradora deverá ter: a de ajudar o seu cliente a manter-se saudável e em caso de doença dar-lhe acesso aos melhores cuidados de saúde.

Um exemplo muito atual, é a cobertura da doença mental, doença que está na ordem do dia e que é excluída nas apólices de seguros. Tal como referi, decidimos lançar há um ano uma cobertura especifica que integrámos em toda a nossa carteira standard, mas até agora fomos os únicos.

E ajudar o cliente a manter-se saudável passa por incentivá-lo a ter hábitos de vida saudáveis, incentivá-lo a rastrear-se e a auto cuidar-se. Mas não basta, teremos também de estar disponíveis para a profilaxia e os tratamentos preventivos. A descodificação do genoma e a possibilidade de conhecermos o nosso perfil de risco e atuarmos preventivamente será o grande desafio que se irá colocar aos sistemas de saúde e em particular ao seguro de saúde cujo objeto, anacronicamente, ainda é a doença manifestada durante a vigência do contrato.

 

Tem cinco filhas. Como foi conciliar uma carreira tão exigente com uma grande família?

Ter uma família numerosa foi um desejo que eu e o meu marido sempre tivemos e organizámo-nos para repartir responsabilidades, estivemos ambos sempre muito presentes nas várias etapas de vida das nossas cinco filhas, agora todas adultas e independentes e com as suas profissões. Claro que contámos com as ajudas indispensáveis dos avós e de duas empregadas que me acompanharam por mais de 30 anos e para quem tenho uma eterna divida de gratidão.

Tentei, também, sempre seguir a regra de deixar tudo organizado antes de sair de casa para que no escritório me pudesse dedicar a 100% às minhas funções e sempre tentei fazer o mesmo switch off quando entrava em casa.

Confesso que nunca senti que fosse um grande desafio conciliar família e trabalho, antes pelo contrário, foi o que me ajudou a relativizar problemas, passar por fases mais difíceis sem grande perturbação, tentando encontrar nelas novo caminho. E agora, são os netos, a maravilha de ser avó, que me dá a certeza da importância dessa conciliação.

 

Maria João Sales Luís é licenciada em Gestão e Administração de Empresas pela Universidade Católica Portuguesa e pós graduada em Ciências Atuariais pela mesma Universidade e em Atuariado e Gestão de Riscos Financeiros pelo ISEG. Iniciou a sua atividade profissional na direção de marketing da então companhia de seguros Império, tendo desenvolvido uma longa carreira na atividade seguradora, assumido funções de responsabilidade nos ramos vida, acidentes de trabalho, automóvel e, desde 2008, na área dos seguros de saúde como administradora na Multicare, seguradora de saúde do Grupo Fidelidade, colabora ainda na APS como presidente da comissão técnica de saúde.

Com mais de 1,1 milhão de clientes e uma quota de mercado de 37% em 2021, a Multicare, seguradora de saúde do Grupo Fidelidade, é líder de mercado destacada não só em quota, mas fundamentalmente em inovação.

A Multicare diferencia-se pelo seu pioneirismo e aposta contínua na inovação, de que são exemplo os Check-Ups regulares sem custos adicionais que desde 2009 integrou na sua oferta, o primeiro seguro com uma cobertura específica de Oncologia no valor de um milhão de euros lançado em 2015 e a primeira plataforma de telemedicina disponibilizada a todos os seus clientes desde 2016 e que conta atualmente com um alargado número de especialidades médicas. Em 2020 a Multicare lança o programa Multicare Vitality, que promove e recompensa a adoção de estilos de vida saudáveis, e em 2021 lança a pioneira e inovadora cobertura de Saúde Mental que, entre outros cuidados, inclui internamento psiquiátrico e reembolsa a subscrição de Apps no âmbito da prevenção, clinicamente validadas pela Ordem dos Psicólogos Portugueses.

A Multicare orgulha-se de ter sido este ano reeleita como a Seguradora do Ramo Saúde mais Reputada em Portugal, como Marca de Confiança, como Superbrand, como Escolha de Consumidor e como Escolha Excellentia.

Desde 2011, que a Multicare é a única seguradora se saúde com a certificação do Sistema de Gestão de Qualidade ISO 9001 e em 2021 foi distinguida com o reconhecimento “Committed to Excellence”, pela Associação Portuguesa para a Qualidade (APQ).

www.multicare.pt

VER MAIS