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Voos atrasados e cancelados. Haverá impacto nos seguros de viagem?

Nos últimos meses o caos instalou-se nos aeroportos em todo o mundo - Portugal não foi exceção - com relatos de longas filas, bagagens extraviadas, atrasos e cancelamentos de voos. Viajar é agora uma incerteza (em alguns casos um pesadelo) devido à falta de pessoal e às greves no setor da aviação. E qual o impacto deste caos aéreo nos seguros de viagem?

Após dois verões pandémicos com as restrições que todos sofremos, demasiadas vídeo conferências e paisagens de screen saver, o home office cada vez mais pequeno, os miúdos em telescola, os chinelos e o periquito, vão seguramente fazer das férias de 2022 as mais aguardadas das últimas décadas.

Praticamente todos sonhamos em viajar, poder descansar em destinos longínquos e paradisíacos, e claro que o avião faz parte do sonho. Voar “para” e “de” é uma parte importante da emoção de viajar.

Cuidadosamente pensadas, com roteiros calculados, bilhetes e hotéis reservados, toilettes escolhidas e malas feitas.  Finalmente, as horas que levámos a devorar o folheto da agência vão ter um fim, expectativas ao máximo. Chegou o dia, vamos viajar!

Bom...infelizmente para alguns, não foi bem assim.

Em junho e julho deste ano os cancelamentos de voos atingiram a Europa e os Estados Unidos de uma forma direta, podendo ser explicados por várias razões.

As infraestruturas das redes aeroportuárias em todo o globo sofreram uma redução significativa com as restrições às viagens. O ajustamento levado a cabo nas empresas que gerem os aeroportos foi visível na redução de recursos necessários ao normal desenrolar das operações de embarque e desembarque.  O próprio controle das fronteiras também foi afetado com imagens de filas intermináveis no terminal lisboeta, fruto do desajustado número de efetivos face ao fluxo de passageiros.

Obviamente que não podemos deixar de lado as companhias aéreas, fortemente impactadas pela pandemia e que para sobreviverem, tiveram de reduzir estrutura humana e aeronaves.

É obvio que estas organizações sofreram com a paragem das viagens, mas também foram muito apoiadas a ultrapassar este período, não fossem os biliões de euros injetados nas companhias aéreas em todo o mundo uma prova disso.

Era esperado que com esse suporte o nível de serviço pudesse ser mantido. Se não ao nível de 2019, porque a recuperação não se faz ao mesmo ritmo da quebra imediata ocorrida em março de 2020, pelo menos que fosse feito um esforço de aproximação à medida que os bilhetes de avião se iam vendendo e os hotéis aceitando as reservas e esta informação está disponível nas confederações de turismo nacionais nos vários países e na IATA (International Air Transport Association).

Foram feitos inúmeros alertas para que os apoio estatais servissem para manter a capacidade instalada até ao momento da recuperação, porque mais tarde ou mais cedo ela viria.

As férias do hemisfério norte, concentram-se essencialmente de junho a setembro – uma realidade que não mudou em dois anos. Era expectável que com o levantamento das restrições em março as pessoas quisessem sair do seu país no Verão, Dá a franca impressão de que estavam todos à espera para ver se os indicadores observados desde o início do ano se cristalizavam. 

 

Top 10 airports in Europe with significant passenger volume, with the highest percentage of flights delayed and canceled between July 1st and July 10th 2022. (1)

E cristalizaram, mas já não houve tempo para reagir e o caos instalou-se. Um exemplo é Lisboa nas posições cimeiras dos piores aeroportos na Europa em atrasos e cancelamentos.

Para tornar o cenário mais complexo, temos os mais diversos sindicatos do segmento aeroportuário e da aviação civil a maximizar o efeito de uma greve, escolhendo as férias dos passageiros para os “massacrar” e virar a frustração destes contra a sua entidade patronal que em muitos casos são os estados, governados por partidos que dependem das boas graças dos eleitores, que também voam. Mas aqui também nada de novo, sempre foi e será assim, todos sabiam.

Deste cocktail que explodiu, as companhias aéreas só tinham uma saída: retirar os passageiros da equação, pois havia demasiados pelos aeroportos sem nada para fazer ou a fazer muito barulho.

Aquilo que foi como “pão para a boca” na pandemia estava agora em demasia, pelo que uma das medidas mais importantes levadas a cabo pelas companhias aéreas para tentar ultrapassar este estrangulamento foi o de retirar oferta. Ficando sempre a dúvida se o departamento de planeamento de voos de uma companhia aérea, com o BSP (Billing and Settlement Plan)[1] ao segundo não saberia já em maio que em junho não iria entregar o serviço.

Recentrando o tema no “malfadado” passageiro, aqueles “salpicados” pelo azar, já pouco têm a fazer se não ajustarem os seus planos e aceitarem a situação. Tentam ir ao balcão da companhia para obter informações e mais longas filas e horas de espera, ou seja, o inferno na terra, ou neste caso no aeroporto.

Enfim, um grande balde de água fria para quem tem de passar pela situação de dezenas de milhar de passageiros com as expectativas de umas férias tranquilas e que começam da pior maneira.

Resposta do setor segurador

Existem no mercado seguros de viagem com garantias que amenizem as demoras ou os cancelamentos de viagem por parte dos transportadores e devem ser valorizados. É importante também que incluam um grande número de causas pelas quais o voo possa ser cancelado e estar coberto por uma apólice, garantindo o reembolso do valor do mesmo.

Desde razões de índole técnica, eventos de força maior ou greves, tudo isto deve estar contemplado para que quando ocorra um evento e se fique impossibilitado de viajar, o passageiro possa ver mitigada a sua perda. Pelo menos financeiramente.

Em termos probabilísticos, o que se tem vindo a verificar nos últimos 20 anos é um aumento regular e constante da frequência destas ocorrências e como exemplificado anteriormente, embora sabendo o que provavelmente iria ocorrer, as entidades responsáveis não atuaram a tempo de o evitar ou diminuir os seus efeitos negativos, contribuindo indiretamente para um aumento da sinistralidade destas garantias.

Não existe nenhuma companhia de seguros ou resseguros que não seja consciente e que, à posteriori, tenha de seguir uma das seguintes opções: ou adicionar exclusões às causas pelas quais cobre o reembolso de um cancelamento ou incrementar a tarifa de forma a manter a rentabilidade da linha. De uma forma ou de outra o consumidor será impactado.

Para dar uma ideia, neste momento o risco de greve está com parecer desfavorável em muitos mercados. O aumento da inflação e a perda de poder de compra dos trabalhadores faz prever uma frequência maior, o que pode levar a uma generalização da exclusão de greves nos tratados de contingência, traduzindo-se numa exclusão nas apólices ao consumidor.

Vamos esperar pelas férias de 2023! Essas é que vão ser! Esperemos que as entidades responsáveis aprendam e, já agora, atuem a tempo. As Seguradoras vão de certeza.

 

A Predictable conta com uma equipa formada por profissionais de seguros especialmente dedicados ao seguro de viagem e com mais de 20 anos de experiência.
Oriundos de companhias de seguros e do "trade" das viagens, com contacto direto com os intervenientes chave da atividade turística e acesso direto a vários mercados de seguros conseguem antecipar as necessidades e desenhar soluções a medidas dos clientes. Para a Predictable há valores que são pilares – lealdade, honestidade e previsibilidade, mesmo que sejam aborrecidos. São seguros!

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AUTORES

João Calhau

João Calhau

Director Geral - Predictable

João Calhau, nascido há 46 anos em Lisboa, licenciado em Gestão de empresas, começou a sua carreira em 1998 como comercial vida e gerindo equipas de vendas na antiga Winterthur Vida. Em 2004 ingressa na Mondial Assistance como gestor de projeto Banca Seguros e Viagem, com produtos que alcançam 1 milhão de segurados neste canal.

Em 2007 e como mandatário geral, chega ao grupo Munich Re através da sua seguradora exclusiva para as viagens Die Europâische Reiseversicherung AG (ERV), que mais tarde alteraria a sua denominação para ERGO Reiseversicherung AG, sendo diretor geral da sucursal portuguesa.

A Predictable surge de uma oportunidade colocada pela ERGO: representar a marca através de uma MGA para o mercado português.