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Um Sinistro é a “estreia” de um Contrato de Seguro

Lourdes Perlines González, Diretora da Perlines-Consulting Insurance defende que a gestão de sinistros deve ser uma prioridade para a indústria seguradora de hoje, mantendo a promessa de proteção dos titulares de apólices pelas suas perdas quando ocorre um imprevisto ou acidente.

Com tal afirmação, juntamente com a minha convicção profunda de que “tenho uma das profissões mais belas do mundo”, desenvolvo a minha atividade profissional há quase 24 anos, de forma ininterrupta, em casos de Gestão de Crise e redação de relatórios periciais concludentes em mais de 17.000 assuntos de toda a natureza, índole e conceção. Naufrágios, incêndios, desmoronamentos, maquinaria, processos, reconstrução de acidentes, acidentes laborais e um sem-fim de situações, todas elas com um elo comum: pessoas em estado de crise.

Pessoas que enfrentam uma ocorrência que condicionará a sua vida, o seu equilíbrio e estabilidade em grande medida; pessoas que confiaram essa ocorrência a profissionais, pessoas que contratam um serviço de atuação e salvaguarda económica perante um caso ao abrigo de uma relação contratual formalizada num contrato de seguro.

Aqui começam os “mas”, que devem, isso sim, pressupor os “prós”: Pró-pessoas, Pró-legados, Pró-património, Pró-empresa, Pró-vida.

O meu âmbito de atuação sempre esteve vinculado a um contexto a que chamamos danos materiais se bem que numa ou outra intervenção, talvez até em demasiadas, tenham ocorrido lesões corporais e até, tristemente, perda de vida. Em qualquer caso, as construções, infraestruturas, mercadorias, cargas, equipamentos, transportes, animais, veículos, embarcações e um imenso etcetera, possuem, repito, um elo comum. Propriedade de, ou ao serviço de... pessoas.

Pessoas que colocam a sua esperança, em condições de absoluto desespero, em profissionais que, numa situação que exigiria uma garantia de proteção, de segurança, parecem, e digo apenas que parecem, mostrar o maior escrúpulo no momento de “usar o traje de gala”, incomodados pela gravata ou pelo sapato de salto alto (perdoem-me a frivolidade da metáfora).

Explico-me: Por que não se realiza a análise detalhada de todas as características e condições para “assegurar” o bem em questão no momento de preparação do contrato? Da inspeção? Por que não se estabelece correspondência entre a realidade e as diferentes garantias subordinadas ao contrato no momento em que este se formaliza? Seria mais simples quando chega o momento da verdade, de dar tudo por tudo! É mais simples monitorizar uma única ocorrência do que iniciar uma transversalidade que provoque a profunda reconversão do setor. 

Quando se produz um sinistro ou ocorrência imprevista, lesiva, desafortunada, somos o único apoio de uma pessoa ou várias, nomeadamente na vertente profissional. Os factos estão consumados. A crise materializou-se. Já não temos de entrar numa discussão acérrima sobre o prémio. Especificamente, temos de demonstrar, só isso, do que somos capazes e, não esqueçamos, o que vendemos ou comprámos há dias, há meses, há anos.

Liderar um setor significa, na minha aceção talvez equívoca, “servir” esse setor. Com os pés na terra, na lama, no lugar do sinistro, que muitas vezes é uma montanha de escombros, com todas as esperanças, esforços e entrega que ali se encontravam. Não quero falar hoje do conteúdo nem do continente, mas da alma que encerram.

A confusão conjuntural entre serviço e subserviência não faz mais do que tornar opaca a carência de conhecimento e capacitação profissional; traduzindo-se no alargamento do cisma já existente entre as partes, na inevitável inter-relação dos agentes que dão forma ao ecossistema. Aspeto em tudo latente numa multidão de âmbitos, como vemos praticamente todos os dias.

A exigência atual, promovida pela abertura dos mercados, da acessibilidade aos dados e, inclusive, o desenvolvimento de novas tecnologias e métodos, sustenta a minha convicção absoluta de que é “agora ou nunca” que temos a possibilidade de confluir para um cenário que posicione ambos os protagonistas numa relação mais do que puramente mercantilista ou transacional mas numa de parceria, promulgando aspetos como o compromisso, transparência, rigor e lealdade entre as partes. 

O chamamento universal à proatividade a partir da aprovação dos ODS (2015) dota o setor segurador de especial relevância. Entre as inúmeras referências que encontrei sobre a  definição de sustentabilidade, adoto uma delas, que reza: “... princípio de assegurar as necessidades presentes sem comprometer as necessidades futuras...”. Literalmente incluído ADN do setor segurador.

O meu artigo não constitui um apelo exclusivo a uma das partes, pelo contrário, antes à própria evolução social, económica e global, que posicionam o setor segurador como protagonista ou primeiro bastião de auxílio numa situação de crise. A batuta de maestro está nas nossas mãos. Vamos ser a espinha dorsal desta conjunção, tão necessária e iminente para, em essência, retomar o caráter de proteção e salvaguarda económicas que deram origem à conceção do seguro nos seus primórdios.

Tudo isto, na minha humilde impressão, possivelmente errónea, dará frutos numa estreia pública e apresentação geral à sociedade no momento em que, com total segurança, uma pessoa atravessa a realidade mais difícil da sua vida.

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AUTORES

Lourdes Perlines González

Lourdes Perlines González

Directora - Perlines-Consulting Insurance

Lourdes Perlines González fundou a Perlines-Consulting Insurance, projeto dedicado aos riscos e sinistros da indústria. Desenvolveu o contrato MyBusinessExpert®, onde pretende unificar as vantagens conferidas pela Gestão Integral de Riscos e pela Gestão de Crise na sua ligação à conceção de programas de seguros adaptados a cada organização. Hoje, assiste Conselhos de Administração e Conselhos Consultivos como Conselheira / Consultora de Riscos, Sinistros e Seguros.