Fiona Hill, There is nothing for you here, Nova Iorque: Mariner Books, 2021, 422 páginas.
Escrito por uma das mais brilhantes académicas americanas, especialista na Rússia de Putin, conselheira de Trump para essa precisa temática, é mais do que um livro crítico desse mandato visto por dentro. É a memória de um percurso de vida, através do qual traça um elo relevante entre a desindustrialização e o populismo, entre o abandono territorial e o etnocentrismo, para apontar às causas que elevam figuras como o ex-presidente americano ao poder.
Hill leva, dessa forma, a história de um desencanto industrial e política por três nações que percorrem a sua vida: a decadência da cidade mineira de Bishop Auckland, no norte do Reino Unido, onde nasceu, estudou e a família vivia há várias gerações; os EUA, o país que escolheu para prosseguir os seus estudos avançados em Harvard, e onde tem trabalhado, desde Harvard ao Conselho Nacional de Intelligence, do Conselho de Segurança Nacional da Casa Branca à Brookings; e a Rússia, o objeto da sua vocação de carreira, foco das suas principais preocupações, quer no quadro de insegurança europeia, quer no do fascínio pelo exercício do poder de Putin por parte de sectores relevantes da sociedade americana, inclusive Donald Trump, com quem saiu em rutura.
Um testemunho de uma vida improvável à partida, marcada por uma busca por conhecimento, sentido de serviço público, patriotismo, coragem e dignidade.