
Agathe Demarais, Backfire: How Sanctions Reshape the World Against US Interests, Nova Iorque: Columbia University Press, 2022, 304 páginas.
As sanções económicas tornaram-se numa das ferramentas mais usadas na política externa dos Estados Unidos. Medidas coercivas como tarifas comerciais, penalidades financeiras e controlos às exportações afetam um grande número de indivíduos, empresas e Estados por todo o mundo. Algumas dessas sanções têm como alvos atores não-estatais, como cartéis de drogas e grupos terroristas, outras dirigem-se a Estados, como a Coreia do Norte, o Irão e a Rússia. Washington olha para as sanções como um instrumento de baixo custo, mesmo que muitas vezes não consiga atingir os objetivos pretendidos e até produza efeitos colaterais que prejudicam os seus interesses.
Agathe Demarais, diretora da Economist Intelligence Unit e antiga conselheira do Tesouro francês, explora os efeitos das sanções em empresas multinacionais, governos e cidadãos, com base em entrevistas a especialistas, decisores e consumidores em países sancionados, abordando ainda as formas de contornar as penalidades dos EUA. Mas esta é apenas uma parte da história. As sanções também alteram as relações entre países, empurrando os governos que estão em desacordo com os EUA para mais próximos uns dos outros, ou cada vez mais da Rússia e da China. Com exemplos que vão dos mercados de commodities na Rússia até à resposta à COVID no Irão, passando pelas ambições no setor da criptomoeda na China, Backfire expõe as transformações provocadas pelos vários regimes de sanções na geopolítica e a economia globais. Mas, igualmente, os seus limites operacionais e temporais, expostos aliás na circunscrição de efeitos que causam sobre alterações em regimes onde são aplicadas. Ou seja, sem um arco de instrumentos paralelos — políticos, militares e diplomáticos — as sanções são factualmente mecanismos limitados e até, nalguns casos, contraproducentes.