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Foco nos Riscos Emergentes

O mundo evolui constantemente. Desafios novos e inesperados, a que muitas vezes chamamos “riscos emergentes”, representam ameaças significativas tanto para as empresas como para a sociedade em geral. As alterações climáticas, questões de ciber-segurança, a IA e o colapso de infraestruturas de importância crítica destacam-se como principais riscos no trabalho da If P&C Insurance sobre riscos emergentes, transformando o cenário em que se movem as empresas e as seguradoras.

Os riscos ligados às alterações climáticas foram identificados há décadas. Contudo, as suas consequências continuam a ser, até certo ponto, desconhecidas. Entretanto, os fenómenos meteorológicos extremos, por exemplo, vão aumentando. Espera-se cada vez maior frequência de impactos graves na empresa e sociedade ao longo dos próximos anos. O clima em transformação leva as empresas a reexaminar os elementos mais essenciais das suas atividades e processos laborais presentes. A título de exemplo, uma fábrica construída há décadas pode ter de ser reavaliada face a novos riscos consequentes de precipitação elevada, inundações, ou maior volume de neve.

Aplicam-se várias teorias legais na maré crescente de contencioso relacionado com o clima. Em agosto de 2024, o Sabin Centre for Climate Change Law já tinha elencado 1,822 processos nos EUA e 939 noutros países. O número crescente de processos desta natureza chama a atenção para uma preocupação cada vez maior com a responsabilização das empresas por questões ambientais.

Esta explosão de casos em tribunal reflete a vontade acrescida, entre cidadãos e ONGs, de desafiar governos e autoridades, mas também outros stakeholders na procura de soluções jurídicas para preocupações relacionadas com o clima.

De acordo com Matti Sjögren, Nordic Liability Risk Management Specialist na If, “A adaptação às alterações climáticas terá um impacto cada vez maior na forma como gerimos os seguros, uma vez que aquelas causarão mais catástrofes de natureza extrema. O contencioso relacionado com alterações climáticas representa outra visão sobre o desenvolvimento de fenómenos influenciados por elas, incluindo os sinistros que envolvem responsabilidade civil. Um olhar sobre estes casos mostra-nos que nem sempre estão directamente relacionados com os riscos ou montantes segurados”.

Os ciber-riscos vieram para ficar

De acordo com a ENISA (a agência da União Europeia para a ciber-segurança) as maiores ameaças à ciber-segurança em 2030 prender-se-ão com dependências, desinformação e erro humano, entre outras ameaças. O cenário de ameaças em evolução representa riscos para produtos mais abrangentes, bem como para os convencionais, como os seguros patrimoniais e de responsabilidade civil.

Principais riscos emergentes na ciber-segurança:

  • Cadeia de fornecimento comprometida devido à integração de componentes e serviços combinados em novos produtos: Ciber-ataques contra dependências de software
  • Campanhas avançadas de desinformação: Incluem o abuso de IA e, por exemplo, a criação e utilização de vídeos deepfake
  • Aumento do autoritarismo assistido por vigilância digital
  • Ameaças à privacidade através da utilização indevida de dados recolhidos de telemóveis, câmaras de vigilância e computadores.
  • Erro humano e exploração de sistemas tradicionais:
  • Vulnerabilidades nos ecossistemas que integram processos físicos e de computação (cyber-physical).
  • Ataques focados que tiram partido dos dados em dispositivos inteligentes:
  • Exploração da natureza interligada de dispositivos inteligentes por ciber-ameaças mais sofisticadas.

De forma semelhante o Barómetro de Risco da Allianz apontou os ciber-riscos como as avarias em sistemas de TI, ataques de ransomware, e fugas de dados entre os riscos globais mais significativos pelo segundo ano consecutivo. As tensões geopolíticas, exemplificadas pelo conflito na Ucrânia, dão uma nova forma ao cenário de ciber-risco, aumentando a probabilidade de ciber-ataques em grande escala. A frequência de ataques de ransomware continua elevada, aumentando os prejuízos à medida que os criminosos refinam as suas tácticas para extorquir mais e mais dinheiro. Ao mesmo tempo, o custo médio de uma fuga de dados nunca foi tão elevado. Os ataques não afetam exclusivamente as grandes empresas, mas também as de pequena e média dimensão. Além disso, a falta de profissionais de ciber-segurança nas empresas acrescenta uma camada adicional de complexidade aos desafios.

Perturbações na cadeia de fornecimento

As perturbações na cadeia de fornecimento são uma preocupação de importância crítica, não sendo possível lidar de forma totalmente eficaz com a volatilidade de preços e perturbações temporárias através dos prémios de seguro. Os conflitos geopolíticos, pressões inflacionárias, desastres relacionados com as alterações climáticas e ciber-ameaças contribuem para as perturbações no fluxo de mercadorias, causando atrasos nos portos, reduzindo a disponibilidade dos transportes de carga e assim somando à escalada dos preços.

O KPMG Global Operations Centre of Excellence prevê as tendências chave nas cadeias de fornecimento, incluindo o ceticismo face à cooperação comercial transfronteiriça, aumento da atividade no ciber-crime, mudanças no posicionamento das actividades de produção e operação em termos de cadeia de valor e localização geográfica, alterações rápidas das cadeias de distribuição do mercado retalhista, investimento tecnológico acelerado e vigilância mais próxima das emissões da Categoria 3 no âmbito dos regulamentos ESG (Ambiente, Social, Governação).

O que é o novo amianto?

Esta pergunta retórica surge frequentemente entre os gestores de risco. Refere-se aos casos de responsabilidade civil e doenças profissionais pelos quais as seguradoras têm pago de 100 a 200 mil milhões de Euros ao longo de décadas. As causas destas lesões e mortes com um alcance muito abrangente, bem como as indemnizações respectivas, devem-se ao uso comum de materiais com amianto em edifícios e várias indústrias antes de se compreender integralmente o seu risco para a saúde. As fibras de amianto causam doenças sérias, muitas vezes décadas após a exposição.

Poderia a nanotecnologia, agora utilizada massivamente em produtos de consumo comuns, mas podendo, ainda assim, ter efeitos desconhecidos, ser “o próximo amianto”? A nanotecnologia exige a manipulação de elementos a nível atómico e molecular para criar materiais e processos inovadores. Se os materiais desenvolvidos representarem riscos, podem causar doenças profissionais nos locais de fabrico e levar a reclamações ao abrigo da responsabilidade civil do produtor por parte dos utilizadores.

A indústria química, indispensável ao fabrico e manipulação de nanomateriais, coloca potencialmente em risco os trabalhadores. As indústrias que incorporam nanomateriais nas suas atividades de produção podem vir a enfrentar processos judiciais coletivos intentados por consumidores que alegam ter sido prejudicados. O transporte de nanomateriais pode involuntariamente causar poluição e sinistros relacionados.

As provas atualmente disponíveis são inconclusivas, motivando o desenvolvimento de vários modelos e quadros de avaliação de risco para compreender e avaliar os dados disponíveis sobre os efeitos dos nanomateriais na saúde. Em comparação com o amianto, pode ser difícil provar o nexo causal entre um determinado nanomaterial e certa doença.

A História mostra-nos que algumas tecnologias, outrora saudadas como grandes avanços, podem vir a ser consideradas de alto risco. Por exemplo, os clorofluorocarbonetos possibilitaram a refrigeração, o ar condicionado e os aerossóis, mas, em consequência, danificaram a camada de ozono que protege o nosso planeta. Os aditivos de chumbo tornavam as tintas mais duráveis, mas aumentavam o risco de envenenamento no decurso das gerações futuras. O amianto funcionava como isolante, mas danificava seriamente o sistema respiratório humano. Os dados científicos sugerem que alguns nanotubos de carbono podem representar um risco semelhante ao do amianto, embora nem todos os nanotubos apresentem o mesmo nível de perigosidade.

O último candidato a “novo amianto” são os PFA, adicionados ao Radar de Riscos Emergentes da If. São substâncias perfluorofluoradas e polifluoradas alquilantes, utilizadas em produtos industriais e de consumo, especialmente em virtude das suas propriedades de resistência a nódoas e gorduras, desde a década de 1930. São de grande duração, pelo que se lhes chama “químicos eternos”. Os PFA migram no ambiente e acumulam-se no organismo humano, suspeitando-se que causem várias doenças sérias. Os resultados da investigação, ainda em evolução, em conjugação com o número crescente de sinistros por todo o mundo devido a contaminação ambiental e problemas de saúde fazem do risco ligado aos PFA algo imprevisível para a indústria e o seguro.

A natureza dos riscos emergentes

Poucos poderiam ter previsto o impacto da Covid-19 quando se deu a primeira notícia do surto. Apesar dos melhores esforços no sentido de revelar riscos emergentes potenciais, nos anos anteriores à Covid-19 poucas empresas levavam em conta que se poderia desenrolar uma pandemia e que esta perturbaria gravemente as suas operações, sociedades e economias ao nível mais fundamental.

Este ano, o Grupo Sampo, a que a If também pertence, apoiou a atualização do Chief Risk Officers’ Forum’s Risk Radar, publicado no seu website. 1 O CRO Forum foi criado em 2004 para contribuir para o desenvolvimento de práticas de gestão de risco na indústria seguradora. Desta vez, foram adicionados como novos riscos a fragmentação social e os riscos de conflitos económicos e de comércio ao radar de risco, retirando-se a tecnologia de blockchain e divisas digitais.

Considerando todos os riscos apresentados, as empresas devem perguntar-se: em quais nos devemos concentrar? Matti tem uma resposta. “Seja a guerra, as alterações climáticas ou uma pandemia, o mundo continua a mudar rapidamente. A melhor forma de enfrentar riscos emergentes é compreender as ameaças que se avizinham no horizonte, incluí-las no plano de continuidade operacional e estarmos preparados para agir rapidamente se se manifestarem”.

1 https://thecroforum.org/emerging-risks-initiative-major-trends-and-emerging-risk-radar-2024/

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AUTORES

Matti Sjögren

Matti Sjögren

Especialista em gestão de risco de responsabilidades - If P&C Insurance

Matti Sjögren é especialista em gestão de risco de responsabilidades na If P&C Insurance. Tem mais de 36 anos de experiência em seguros de empresas e é especialista em sinistros, subscrição de seguro de responsabilidade civil e gestão de risco em responsabilidade civil. Tem um mestrado em direito pela Universidade de Helsínquia.

Vilma Torkko

Vilma Torkko

- If P&C Insurance