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Eventos climáticos nos seguros de habitação

Nos últimos anos temos assistido ao aumento da frequência e gravidade de eventos extremos resultantes das alterações climáticas. Em 2022 os prejuízos causados por desastres naturais ultrapassaram os 150 mil milhões de euros. Ao longo do último ano, Portugal foi assolado por diversos eventos extremos que impactaram profundamente a vida das pessoas e a economia.

Os últimos meses têm sido pródigos em sinistralidade Multirriscos.

A mãe Natureza vai testando os nossos meios de combate a Incêndios, a resistência das nossas paredes e telhados ao excesso de água, a forma como protegemos os nossos jardins, os meios que as Seguradoras têm para, num curto espaço de tempo, averiguar e quantificar danos em tantos Segurados para que os trabalhos de reconstrução comecem rapidamente... A tudo isto acresce a escassez e inflação no fornecimento de materiais, criando pressão para se conseguir reparar danos com orçamentos que não estejam muito fora dos capitais seguros que foram contratados. Do ponto de vista dos seguros, tudo isto traz várias dificuldades práticas para as quais as diversas apólices existentes no mercado não respondem da mesma forma.

Tanto nos incêndios como nas intempéries, a maioria das apólices só garante danos quando o edifício principal é afetado (para além das coberturas estarem normalmente circunscritas apenas a fenómenos que ultrapassem níveis bastante adversos de pluviosidade e/ou velocidade mínima dos ventos, deixando de fora os que acontecem com mais frequência). O que se verifica é que as estruturas exteriores, por não estarem abrigadas por quadro paredes e um teto, são muitas vezes as primeiras a ceder às intempéries ou incêndios, sendo por isso um risco mais exposto e que não fica assim salvaguardado nessas apólices, sejam os bens afetados mobiliário exterior, pérgulas, piscinas, estátuas e ornamentos, jardins, ou outro tipo de bens exteriores. Adicionalmente há vários sublimites para essas estruturas pelo que importa contratar o nível mais alto possível de proteção para esses casos – é fácil perceber que, pelo menos no segmento alto, os sublimites nas apólices standard são sempre manifestamente insuficientes. Neste segmento, qualquer destes itens atinge valores na ordem das dezenas ou mesmo das centenas de milhares de euros, e, ao invés, os sublimites das apólices standard são valores que não costumam atingir sequer 10% dos valores dessa ordem de grandeza. Acresce, como referi atrás, o tema da inflação: nalguns tipos de bens os aumentos nos últimos 3 anos foram dramáticos e importa por isso fazer uma reavaliação para não haver surpresas em caso de sinistro. É muito importante compreendermos o caso particular do segmento do luxo porque coloca desafios muito próprios para os quais as apólices standard manifestamente não respondem.

Também quando essas casas não ficam habitáveis, até se repararem os danos é necessário alojamento alternativo e novamente a questão dos sublimites põe-se, seja para o proprietário, seja para o inquilino. Se tivermos um capital de por exemplo € 10.000, neste segmento isso chegará quando muito para 2 meses de renda, deixando o cliente desprotegido se o imóvel ficar inabitado por um período bastante superior.

Por fim, há as questões inerentes ao próprio edifício principal. De entre as limitações mais restritivas para este género de sinistros, temos por exemplo exclusões por danos causados por infiltração das águas das chuvas. Temos ainda sublimites demasiado pequenos para os custos incorridos na manutenção da coerência estética: imagine o que seria um edifício com os tetos trabalhados que fossem substituídos por estuque branco sem qualquer correspondência com o resto do edifício? Ou azulejos antigos ficarem misturados com outros mais recentes? Isto sem falar que, mesmo sem estas questões, os materiais nobres custam um valor muito superior aos restantes pelo que quaisquer sublimites existentes serão sempre um problema. Muitas vezes esquecemos que um mero chão com madeira nobre na sala de uma casa com estas características, custa dezenas de milhares de euros ou que um simples vidro pode custar vários milhares de euros. Ou que a água que entrou em casa estragou a tela de quadro muito valioso. A lista é interminável transformando todo o custo de reconstrução num valor bastante acrescido.

Estas são apenas algumas das problemáticas e estamos a falar apenas de coberturas principais, sem falar das inúmeras vantagens que as coberturas do tipo “all risks” oferecem para outro tipo de sinistros que podem ocorrer numa habitação, principalmente os que podem afetar obras de arte.

Estes fenómenos extremos são um importante “teste do algodão” quanto à qualidade das coberturas e do funcionamento das Seguradoras e é importante escolher as melhores opções do mercado. Há muito a perder e pouco a ganhar com a escolha de apólices baratas para habitações que não são baratas: o que se pode perder num sinistro é infinitamente superior ao que eventualmente se poupa por comprar um seguro mais barato. Nesse contexto, produtos como o Art&Home que a MDS desenvolveu connosco, são uma lufada de ar fresco e um bom exemplo de coberturas que respondem eficazmente aos problemas que se colocam aos clientes nestas situações.

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AUTORES

Gonçalo Baptista

Gonçalo Baptista

Sócio e Diretor Geral - Innovarisk

Licenciado em Organização e Gestão de Empresas pelo Instituto Superior das Ciências do Trabalho e da Empresa em 1998. 

Entre 1998 e 2000 foi gestor de contas de corretores de seguros na Companhia de Seguros Tranquilidade. De 2000 a 2003 foi consultor do Grupo Villas-Boas. Posteriormente desempenhou funções como gerente da Anglia – Representação de Seguradoras Estrangeiras entre 2003 e 2006. 

De 2006 a 2013 foi diretor Geral da Hiscox em Portugal. Durante esse período acumulou funções como Diretor Ibérico na área de Arte e Habitação entre 2007 e 2008.

É sócio e Diretor Geral da Innovarisk desde 2013.