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A Transformação Digital torna-se hoje inevitável no setor segurador

Hoje é quase um lugar-comum dizer-se que vivemos numa época de mudança acelerada. Os seguros não fogem a esta regra. Nas sociedades do hemisfério norte, onde o setor segurador está mais desenvolvido, a demografia – em particular via aumento da longevidade - alterou-se muito nas últimas décadas, as catástrofes naturais não param de nos surpreender, as mudanças geopolíticas estão a alterar os equilíbrios com que convivemos há décadas e o nosso estilo de vida está a sofrer significativas alterações com fortes impactos nos comportamentos dos consumidores.

É neste contexto de alterações profundas que novos riscos (emergentes) estão a aparecer e novas realidades / preocupações estão a emergir nas sociedades contemporâneas. Os seguros estão na linha da frente deste combate, quer pelo reforço dos mecanismos de prevenção (quer pessoal, quer patrimonial), quer pela sensibilização para a necessidade de aumentar a proteção, face à existência de significativos “insurance protection gaps”. Na economia portuguesa estão identificados significativos protection gaps, todos eles com fortes impactos no setor segurador (risco climático e catástrofes naturais, risco cibernético, risco demográfico – saúde e pensões de reforma, risco pandémico, risco de data gaps, só para citar os mais impactantes).

Mas, para que os seguros possam ser eficazes nesta nova realidade, os seguradores estão a alterar os seus posicionamentos e formas de estar, agir e operar. A inovação e a transformação digital assumem aqui um papel relevante e determinante. Inovação no sentido de criatividade (criar algo “novo” – ou renovado - e útil, ou seja, que crie valor) mais execução (converter uma ideia num negócio bem-sucedido). Transformação Digital, no sentido de usar a tecnologia, para acelerar e aumentar a fiabilidade dos projetos transformacionais nas organizações, seguradoras em particular. A associação da inovação e das técnicas a elas associadas (em particular as metodologias de Design Thinking) com a transformação digital estão, e serão cada vez mais num futuro próximo, os verdadeiros fatores de criação de valor no setor segurador.

A Transformação Digital assume-se assim como inevitável e, com a utilização da tecnologia (IA e IA Generativa, em particular), os dados podem agora ser trabalhados com a fiabilidade e a rapidez, necessárias aos corretos processos de tomada de decisão (com uso dos chamados “big data”).

Foi neste enquadramento que surgiu a necessidade de construir um programa ligado a estes temas, que levasse os stakeholders do setor à Academia. A Católica Lisbon Business & Economics, no âmbito da sua formação de Executivos, abraçou esta iniciativa e lançou assim em Novembro de 2024 um programa denominado “Inovação e Transformação em Seguros”, que tive a honra de dirigir. Tratou-se de um programa de 56 horas, que teve o apoio dos principais stakeholders do setor (Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões / ASF, Associação Portuguesa de Seguradores / APS, Associação Nacional de Agentes e Corretores de Seguros / APROSE e que teve como Parceiro de Inovação e Transformação Digital, a NTT DATA). Foram Formadores deste Programa, Professores da Católica Lisbon, Quadros do Setor Segurador e Especialistas em Tecnologia (com forte ligação a seguros), dois deles vindos do estrangeiro.

Estruturalmente, o Programa teve quatro módulos:

  1. Abordagem Conceptual à nova Gestão de Risco, à Inovação e à Transformação Digital em Seguros (11,5h);
  2. Novas Tendências / Tecnologias de Transformação Digital em Seguros (19h);
  3. A Transformação Digital na cadeia de valor em Seguros (16h);
  4. Proposta de Inovação em Seguros - aplicação de metodologias Design Thinking / Design Sprint e conclusão (9,5h)

Ao longo do programa ocorreram seminários que versaram sobre os temas em discussão no Programa:

  1. “Insurance Protection Gap e Literacia Financeira” – Apresentação e Entrevista com o Presidente da Associação Portuguesa de Seguradores / APS, Engº José Galamba de Oliveira (seminário de abertura do Programa);
  2. “Como liderar a Inovação e a transformação nas seguradoras em Portugal” – Seminário com a presença dos seguintes Convidados: Sérgio Carvalho – CMO da Fidelidade, José Francisco Neves – CMO / COO da Allianz, Manuel Pinto - CIO da Generali Tranquilidade e Paulo Padilha – CIO da Prévoir; a moderação foi assegurada por Nuno Castro (Partner | Insurance NTT DATA);
  3. “O papel da regulação/supervisão num contexto de Transformação Digital” – Seminário organizado pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões / ASF, cuja abertura foi feita pela Presidente da ASF, Dra. Margarida Corrêa de Aguiar e que contou com uma Mesa-redonda cujo Moderador foi o Dr. Diogo Alarcão, Administrador da ASF com a participação da Dra. Paula Alves - Departamento de Mediação e Novos Canais da ASF (Modelos de negócio digitais), do Dr. Eduardo Pereira – Departamento de Supervisão Comportamental da ASF (Proteção do consumidor em contexto de digitalização), do Dr. Nuno Alpalhão – Gabinete de Organização e Planeamento da ASF (Suptech e Inteligência Artificial) e da Dra. Ana Byrne – Departamento de Análise de Riscos e Solvência da ASF (Resiliência operacional digital).
  4. "Transição e Transformação Digital em Seguros" - Seminário de encerramento / síntese, dinamizado pelo Diretor do Programa que contou com 3 convidados externos: Dr. Miguel Guimarães - Diretor Geral Adjunto da APS / Associação Portuguesa de Seguradores, Engº Hugo Alves da Silva | Delivery Manager – Insurance, NTT DATA Portugal e Engº Luis Cardoso – Consultor e Coordenador do Programa de Transformação Digital da APS.

Os índices de reconhecimento e de avaliação do Programa foram muito positivos, pelo que, em Maio próximo, teremos uma segunda edição, numa estrutura muito semelhante à primeira.

A terminar, importa referir que o setor financeiro, seguros em particular é dos setores onde a inovação e a transformação digital podem ser mais impactantes, em particular no que respeita à utilização da IA e IA Generativa. Contudo, um estudo recente de uma consultora internacional (1) diz-nos que, no setor dos seguros (com exclusão de saúde), o índice de maturidade da IA Gen ainda é relativamente baixo, pois apesar de 50% dos gestores terem um grau de maturidade em relação à IA Gen médio (40%) ou alto (10%), há outros 50% de gestores com uma maturidade baixa (40% com baixa ou sem nenhuma adoção e 10% com baixa maturidade), o que compara negativamente com outros setores, em particular banca, retalho e tecnologia.

Urge alterar esta situação e mobilizar as seguradoras para a importância da transformação digital, que é hoje inevitável. Conhecer bem o modelo de negócio da seguradora é o ponto de partida para a sua correta alteração mas, quando falamos em Transformação Digital, devemos pensar sempre estrategicamente (de “a” a “z”), mas executar ponderada e faseadamente, para garantir a sua correta e eficaz implementação.

(1) BCG e GLG IT Buyer Pulse Check 7.0, March 2024 

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AUTORES

Paulo Bracons

Paulo Bracons

Diretor do Programa “Inovação e Transformação em Seguros” - Católica Lisbon

Licenciado em Economia pela Universidade de Évora, tem uma experiência executiva de mais de 35 anos no setor segurador em Portugal e Angola, em ambiente maioritariamente multinacional; em Portugal passou pela Mundial-Confiança (atual Fidelidade), entre 1989-1998, pela Royal Exchange, entre 1999-2000 e pela AXA, entre 2000 e 2014. Em Angola, pela Saham Angola Seguros (atual Sanlam Allianz Angola) entre 2015-2019 e pela Fortaleza Seguros, entre 2019 e 2021.

É Economista Conselheiro na Ordem dos Economistas no Colégio de Especialidade de Economia e Gestão Empresariais, e fundou o Conselho Fiscal do Fórum Insurtech e Fintech Portugal, sendo o seu atual Presidente. Autor de artigos sobre seguros em jornais e publicações especializadas, é atualmente Diretor do Programa “Inovação e Transformação Digital” na Católica Lisbon Business & Economics.